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O nomadismo digital veio para ficar?

Ultimamente tenho lido muitos artigos sobre o nomadismo e como a relação entre moradia e trabalho tem sofrido mudanças nos últimos tempos em razão da pandemia. É um fato que as empresas tiveram que se adaptar e as relações de trabalho também, assim como, por outro lado, muitas pessoas perderam seus empregos que até então consideravam “estáveis” e foram empreender em outro ramo ou buscar outras formas de renda através do trabalho autônomo.

A pandemia enfiou goela abaixo a necessidade de adaptação e, com a tecnologia como grande aliado, possibilitou a liberdade geográfica para que muitos experimentassem o tal do nomadismo digital. Mas afinal, o que é isso que todo mundo tem falado ultimamente?

O termo nomadismo vem do hábito de povos antigos que não tinham “endereço” fixo, extraindo o máximo que determinado lugar tinha a oferecer e, quando as condições de alimentos e recursos naturais iam ficando mais difíceis, esses povos seguiam rumo a outros lugares com melhores condições de vida. No decorrer do tempo, com o desenvolvimento da agricultura essa prática foi caindo em desuso.

Nos últimos tempos, com o avanço da tecnologia, começou-se a falar do tal do nômade digital. O nomadismo digital nada mais é do um estilo de vida impulsionado pela tecnologia que permite que as pessoas trabalhem com liberdade geográfica, sem ter um endereço fixo.

O termo entrou na moda com a pandemia, quando as pessoas começaram a ter mais flexibilidade para levar seu trabalho para outros lugares que não o ambiente da empresa ou suas próprias casas. Afinal, o nomadismo digital veio para ficar?

Qualquer exercício de analisar o presente para prever o que está por vir no futuro nada mais é do que um palpite e aqui não deixa de ser diferente: Analisando a reviravolta nas relações de trabalho muitos têm dito que o tal do nomadismo digital veio para ficar. Uma legião de pessoas sem endereço fixo, vivendo por ai viajando e, com a ajuda da tecnologia, trabalhando de onde quer que estejam.

Depois de quase 1 ano e meio vivendo sem um endereço fixo, viajando pelo mundo e vivendo em uma van, eu não poderia discordar mais. E que fique aqui registrado que esse período foi um dos melhores da minha vida, conheci pessoas diferentes, culturas diferentes, paisagens incríveis e me vi dona do meu próprio tempo. Não é uma questão pessoal, é uma análise nada romantizada do que o nomadismo digital implica.

De fato, acredito que o futuro, depois de tudo o que passamos, inevitavelmente será cada vez mais de pessoas com liberdade geográfica para trabalharem de diversos lugares, sendo mais donas do seu tempo, com os benefícios e malefícios que isso implica, entre eles uma linha cada vez mais tênue entre a divisão da vida pessoal e do trabalho.

Daí para dizer que as pessoas abrirão mão de suas residências fixas para morar cada dia em um lugar é um caminho muito diferente. Digo isso porque no fundo, o ser humano procura um pouco de aconchego, segurança e “estabilidade”. Se isso existe ou não pouco importa, buscamos o sentimento de estabilidade e não a estabilidade em si. No fundo, estamos em busca da nossa zona de conforto: por isso muitas vezes nos mantemos em trabalhos que não nos fazem felizes ou em relacionamentos abusivos, a situação pode estar ruim, mas nos proporciona estabilidade financeira ou emocional.

Sair desse ciclo é um longo caminho.

Saímos do nomadismo para a residência fixa porque isso nos proporcionava segurança, voltar para esse status original demanda certo desapego e instabilidade que muitas vezes não estamos dispostos a encarar.

Quando você não tem um endereço fixo é difícil abrir uma conta no banco, emitir um documento ou até mesmo abrir uma empresa. Você está no limbo. O filme vencedor do Óscar “Nomadland” mostrou bem isso. Falamos muito sobre nomadismo digital por escolha, como foi o meu caso, mas pouco se fala sobre a legião de pessoas que vive nessa situação por falta de opção.

Não ter um endereço fixo implica em você estar constantemente pensando em questões básicas: onde dormir, que tipo de ingredientes vou encontrar nesse lugar para me alimentar, segurança, entre outros aspectos. E não estou aqui fazendo um juízo de valor com relação a isso, só estou dizendo que nomadismo digital não é levar seu computador para uma paisagem linda no topo de uma montanha. Nomadismo digital significa usar da tecnologia para ter a liberdade de explorar o mundo, sem um endereço fixo e ainda não acho que o mundo, tal como é hoje, está preparado para isso em um futuro próximo.

Minha aposta é que as pessoas de determinada classe social cada vez mais vão usar da tecnologia em seu favor para passar temporadas longe de suas casas, que vão continuar existindo.

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